quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

“Onde”


“Onde”

Muitos Cristãos pensam que quando o Senhor disse “onde” Ele estaria querendo dizer “onde quer que”. Eles têm a ideia de que o Senhor estava dizendo que um grupo de crentes poderia se reunir da maneira que achasse melhor, quando e onde bem entendessem, e com isso desfrutariam automaticamente da garantia da promessa feita pelo Senhor a eles. Eles imaginam que se alguns Cristãos saírem para tomar um café ou praticar um esporte juntos, eles podem reivindicar a promessa deste versículo, de que o Senhor estaria no meio deles. Isso nada mais é do que tirar esta preciosa passagem da Escritura completamente fora de seu contexto. É bem verdade que o Senhor está com todos os crentes, individualmente, o tempo todo, não importa onde eles possam estar (Mt 28:20; Hb 13:5), mas não é este o contexto do versículo 20 de Mateus 18. Conforme já foi mencionado, este versículo tem a ver com o Senhor estando no meio de uma assembleia divinamente reunida para sancionar as ações administrativas dessa assembleia. Podemos chamar isso de Sua presença coletivamente; enquanto as outras seriam a Sua presença individualmente. As duas não devem ser confundidas. Existe uma diferença entre Ele estar com os Cristãos, e os Cristãos terem a Ele no meio de suas reuniões da assembleia.[1] A presença do Senhor neste sentido coletivo é o que sanciona a existência daquele grupo de pessoas que Ele reuniu pelo Espírito. Isto não se aplicaria a quaisquer grupos de Cristãos formados por homens, pois se o Senhor concedesse Sua presença, nesse sentido coletivo, a todos esses grupos, Ele estaria sancionando as divisões no testemunho público da Igreja, as quais são uma desonra para Deus. Cremos que Ele não faria isso.
Nem devemos confundir a presença de Cristo e a presença do Espírito Santo. A presença do Espírito de Deus é também conhecida de duas maneiras. Ele está tanto “nos” crentes (“em vós”) como “com” os crentes (“convosco”) (Jo 14:17; At 2:1-4). Primeiro, Ele habita em cada crente (Jo 14:17; Rm 8:9, 11; Ef 1:13, 4:30; 1 Ts 4:8; Tg 4:5; 1 Jo 3:24, 4:13). Em segundo, Ele habita na casa de Deus onde existem tanto crentes como incrédulos (Jo 14:17; At 2:2; Ef 2:22). Se um incrédulo se juntar aos crentes onde o Espírito Santo habita, esse incrédulo poderá “participar” do Espírito de Deus mesmo estando em sua condição de perdido. Essa participação, no sentido de provar dos privilégios que os crentes desfrutam (Hb 6:4-5), seria evidentemente apenas exterior, e não o desfrutar completo da comunhão que é privilégio apenas do crente. Isto é indicado pelo uso da palavra “metecho” em grego, que implica participação, sem, contudo, especificar o grau dessa participação. Significa que até mesmo um incrédulo pode desfrutar dos privilégios exteriores do Cristianismo, se estiver na casa de Deus onde o Espírito de Deus está agindo.
Citamos aqui uma passagem do livro “Help & Food” (“Auxílio e Alimento”) que fala da presença do Espírito em toda parte na casa. “Estar reunido ao Seu Nome significa que o Seu Nome constitui o Centro de união. O que nos une é a verdade de Quem Ele é. Onde Ele encontrar um povo para o qual essa ligação é suficiente, ali Ele promete a bênção de Sua presença pessoal no meio deles. Tal presença deve ser distinguida da presença do Espírito Santo nos santos ou na assembleia como a casa de Deus em geral. O Espírito Santo está sempre nos santos e na assembleia de Deus como um todo, independentemente dos princípios sobre os quais estejam reunidos, e a Sua presença, portanto, não sanciona a reunião tal como ela é. Isso deve ser tão claro quanto importante, pois mostra como Deus pode operar em Sua graça em meio a toda a confusão da Cristandade, sem necessariamente sancionar, no mínimo, os princípios discordantes e sectários que prevalecem. A presença de Cristo no meio, por outro lado, é uma sanção (não do estado da assembleia, é claro), caso contrário o ‘tudo o que ligardes na Terra será ligado no céu’ está conectado a ele.”[2]
O “onde” do versículo (20), indica que o Senhor tem um lugar onde Ele colocou o Seu Nome na Terra e Ele está ali no meio daqueles que Ele reuniu pelo Espírito em torno de Si. É este o terreno dos princípios do Novo Testamento sobre o qual os Cristãos são congregados para exercitarem ações administrativas (que é o contexto da passagem), e inclui a adoração coletiva, o ministério e a oração. Os irmãos têm chamado a isso de o divino terreno de reunião.
“Onde quer que seja”, torna o local como sendo uma escolha nossa (como os homens dizem: “Vá à igreja de sua escolha”); “onde”, por outro lado, torna o local como Sua escolha – o local de Sua designação. O lugar não é um centro geográfico, como era Jerusalém no judaísmo, mas um terreno espiritual de princípios sobre os quais os Cristãos são congregados pelo Espírito. Os Cristãos assim congregados podem estar congregados em diferentes lugares do mundo, porém ocupam um terreno singular e estão em comunhão uns com os outros. Os vários grupos podem estar congregados localmente em uma simples sala, em uma cozinha ou barracão – o que importa é onde o Espírito de Deus os reuniu ao Nome do Senhor Jesus Cristo.
Aprendemos de Hebreus 13:13 que este lugar onde o Senhor está no meio está “fora do arraial”, uma expressão que significa o judaísmo com todos os seus princípios e práticas. Os Cristãos costumam perder de vista este ponto, trazendo para seus lugares de adoração muitas coisas conectadas à adoração judaica. Eles ignoram o claro ensino da Escritura que dizem que o tabernáculo é uma figura do verdadeiro santuário ao qual agora temos acesso pelo Espírito (Hb 9:8-9, 23-24). Em vez disso, acabaram usando o tabernáculo como um modelo para suas organizações eclesiásticas e sua adoração. Construíram grandes catedrais e templos “feitos por mãos de homens” e literalmente emprestaram muitas coisas do Velho Testamento para sua adoração. Perderam de vista o fato de que o verdadeiro terreno Cristão de reunião e adoração é algo novo e completamente diferente e com uma nova ordem de achegar-se a Deus “em espírito e em verdade” (Jo 4:23-24; Hb 10:19-20). Portanto, sabemos que este terreno de reunião para Cristãos é totalmente livre de judaísmo e fora dele. Qualquer um que procurasse encontrar este lugar da escolha do Senhor teria de virar as costas para todos os lugares existentes na Cristandade, independentemente de ser a Catedral de São Pedro em Roma ou uma simples capela evangélica, já que em todos os casos existem os aparatos do judaísmo mesclados com os seus assim chamados cultos de adoração Cristã.
O princípio de reunião no Cristianismo é, como um todo, completamente diferente do judaísmo. O Senhor revela o contraste entre eles em João 10, ao se referir ao terreno judaico de reunião como “aprisco” e ao terreno Cristão de reunião como “rebanho” (Jo 10:16). O aprisco, que é um lugar fechado (ou curral), indica a maneira legalista usada pela lei para manter as ovelhas reunidas. As forças ou comandos externos da lei, que necessariamente os separavam das nações, mantinham os israelitas unidos. Por outro lado, um rebanho é uma reunião de ovelhas sem uma cerca. As ovelhas estão reunidas, não por uma influência externa, mas por ter ocorrido nelas um trabalho que faz com que sejam atraídas ao Pastor em seu meio. Não há necessidade de cerca para mantê-las unidas; elas querem estar ali por terem um mesmo polo de atração: o Pastor. F. C. Blount comparou o primeiro caso a uma circunferência sem um centro, e o segundo um centro sem circunferência. A fim de indicar a transição do judaísmo para o Cristianismo o Senhor falou de levar Suas ovelhas para fora do “aprisco”, guiando-as na forma de um “rebanho”.




[1] N. do A.: “Can Christians be Gathered in Only One Place?” – Notes of General Meetings in Ottawa – 1987 – pág. 9.

[2] N. do A.: “The True Church” – citações de vários autores – compilado por M. W. Smith, pág. 12).

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