Nossa Responsabilidade para com Aqueles que Não Estão Congregados
Alguém poderá
perguntar: Qual é nossa responsabilidade para com aqueles que não estão
congregados? Será que não deveríamos dizer algo a eles sobre a verdade da
assembleia? Nossa resposta é sim. Toda a verdade é para toda a Igreja,
tanto para aqueles congregados ao Nome do Senhor Jesus como para aqueles que
estão espalhados na Cristandade. Devemos torná-la disponível a todos os que buscam.
Devemos estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor” a
qualquer que nos pedir “a razão da esperança” que há em nós (1 Pe 3:15).
Paulo recebia a todos que iam a ele buscando pela verdade (At 28:30-31). Uma
figura disso está no livro de Ezequiel. Ele devia mostrar “à casa de Israel
esta casa” (Ez 43:10). Ou seja, ele devia mostrar a eles o padrão da casa
de Deus, para que pudessem ver por si mesmos essa ordem. Devemos igualmente
apresentar a verdade da Igreja para a Igreja. Todavia, precisamos estar em
comunhão com o Senhor quanto a quando e como apresentar a
verdade da reunião a alguém. Por divulgar indiscriminadamente a verdade da
assembleia a todas as pessoas com quem nos encontramos, podemos
inadvertidamente estar dando “aos cães as coisas santas” e “aos
porcos” as “pérolas” (Mt 7:6). Na Escritura o “porco” costuma
ser usado para descrever um falso professo. Uma “pérola” na Escritura
refere-se à assembleia (Mt 13:45-46). E esta verdade é de propriedade exclusiva
da Igreja.[1] A
verdade concernente à assembleia deve ser disseminada com cuidado. Que o Senhor
possa nos guiar nesta tarefa.
Uma razão pela qual
deveríamos ser cuidadosos neste assunto é que podemos acabar forçando a verdade
em alguém que ainda não esteja preparado para ela. Às vezes ficamos tão
ansiosos para dar às pessoas a verdade da assembleia que acabamos criando uma
discussão. O resultado pode ser que as pessoas acabem sendo feridas pela
verdade; e daí em diante passam a rejeitá-la sem sequer dar espaço para
consideração. W. Kelly disse: “havia suficiente avanço na verdade naquilo que o
apóstolo [Paulo] ensinava, mas ele não iria correr o risco de causar uma
divisão entre os santos em Jerusalém. Se ele ficasse indiferente à condição dos
santos, ele teria apresentado toda a verdade celestial na qual ele estava bem à
frente dos outros. Mas duas coisas devem ser consideradas na comunicação da
verdade. Não somente deve haver a certeza de que a verdade é de Deus, mas ela
deve também ser adequada àqueles a quem comunicamos. Talvez eles precisem dela,
mas não estejam em condições de recebê-la, e quanto mais preciosa a verdade,
maior o dano que, em certo sentido, é causado se for apresentada àqueles que
ainda não estão em condições de se beneficiarem dela... Esta parece ser uma das
razões pela qual, na epístola aos gálatas, o apóstolo nunca menciona essas
benditas verdades. A sabedoria dessa omissão é evidente. Tais verdades teriam
sido ininteligíveis, ou no mínimo inadequadas, para as almas na condição em que
se encontravam. Apresentá-las não faria bem algum a eles.”[2]
Veja também Marcos 4:33 e João 16:12.
Devemos nos lembrar de
que a verdade é para aqueles que a desejam (Jo 7:17); embora possamos orientar
e instruir, não é nossa tarefa tentar forçar aqueles que têm pouco ou nenhum
interesse nessas coisas. J. N. Darby disse que ele nunca tentou coagir alguém a
andar na senda que ele trilhava (estando congregado ao Nome do Senhor) que não
tivesse a fé ou convicção sobre isso.
W. T. P. Wolston advertiu: “Não empurre com um forcado[3]
seus convertidos para dentro da assembleia”. Reunir os Cristãos ao Nome do
Senhor Jesus é uma obra que Deus nunca entregou para o Seu povo fazer. Em Lucas
10:33-35 vemos que o samaritano, que é uma figura do Senhor Jesus, levou o
homem ferido à “estalagem” (uma figura da assembleia). Também lemos em
Lucas 22:10-11 de um homem “levando um cântaro de água”, o qual é uma
figura do Espírito Santo que guia os discípulos ao lugar escolhido pelo Senhor.
Isto demonstra que a obra de reunir pertence ao Senhor Jesus e ao Espírito de
Deus. Ele pode nos associar Consigo neste trabalho, mas é tudo Sua obra.
O perigo nesta área de serviço
Cristão é que existe uma tendência de servos bem intencionados acabarem se
comprometendo, ao se esforçarem em levar a verdade às pessoas. Devemos amar a
todos os filhos de Deus (Ef 1:15). Mas embora nosso amor e preocupação devam
ser dirigidos a todos os santos de Deus, nossos pés devem permanecer no caminho
da obediência à Palavra de Deus que nos exorta a permanecermos separados da
desordem existente na “grande casa” (2 Tm 2:20-21). O fato de vermos
pessoas que necessitam da verdade nas várias denominações religiosas não
significa que devemos deixar de lado nossa responsabilidade de andarmos em
obediência. Não podemos abandonar os princípios de separação a fim de alcançar
alguém. Devemos nos lembrar de que a obra toda de reunião é do Espírito.
Precisamos descansar no fato de que Deus é soberano e pode alcançar pessoas
onde quer que elas estejam. “A Palavra de Deus não está presa” (2 Tm
2:9). Mas o fato de Deus usar Sua Palavra onde Lhe aprouver (Is 55:11) não
significa que podemos ir onde quisermos a fim de levar a Palavra às pessoas.
[1] N.
do A.: W. Scott.
[2] N.
do A.: W. Kelly, “Lectures on
the Epistle to the Galatians”, pág. 39.
[3] N. do T.: O forcado ou forquilha é um instrumento utilizado na agricultura e na
jardinagem, constituído por um cabo longo de madeira, com de dois a quatro
dentes compridos na ponta, geralmente de metal, assemelhando-se a um grande garfo.
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