sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Nossa Responsabilidade para com Aqueles que Não Estão Congregados


Nossa Responsabilidade para com Aqueles que Não Estão Congregados

Alguém poderá perguntar: Qual é nossa responsabilidade para com aqueles que não estão congregados? Será que não deveríamos dizer algo a eles sobre a verdade da assembleia? Nossa resposta é sim. Toda a verdade é para toda a Igreja, tanto para aqueles congregados ao Nome do Senhor Jesus como para aqueles que estão espalhados na Cristandade. Devemos torná-la disponível a todos os que buscam. Devemos estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor” a qualquer que nos pedir “a razão da esperança” que há em nós (1 Pe 3:15). Paulo recebia a todos que iam a ele buscando pela verdade (At 28:30-31). Uma figura disso está no livro de Ezequiel. Ele devia mostrar “à casa de Israel esta casa” (Ez 43:10). Ou seja, ele devia mostrar a eles o padrão da casa de Deus, para que pudessem ver por si mesmos essa ordem. Devemos igualmente apresentar a verdade da Igreja para a Igreja. Todavia, precisamos estar em comunhão com o Senhor quanto a quando e como apresentar a verdade da reunião a alguém. Por divulgar indiscriminadamente a verdade da assembleia a todas as pessoas com quem nos encontramos, podemos inadvertidamente estar dando “aos cães as coisas santas” e “aos porcos” as “pérolas” (Mt 7:6). Na Escritura o “porco” costuma ser usado para descrever um falso professo. Uma “pérola” na Escritura refere-se à assembleia (Mt 13:45-46). E esta verdade é de propriedade exclusiva da Igreja.[1] A verdade concernente à assembleia deve ser disseminada com cuidado. Que o Senhor possa nos guiar nesta tarefa.
Uma razão pela qual deveríamos ser cuidadosos neste assunto é que podemos acabar forçando a verdade em alguém que ainda não esteja preparado para ela. Às vezes ficamos tão ansiosos para dar às pessoas a verdade da assembleia que acabamos criando uma discussão. O resultado pode ser que as pessoas acabem sendo feridas pela verdade; e daí em diante passam a rejeitá-la sem sequer dar espaço para consideração. W. Kelly disse: “havia suficiente avanço na verdade naquilo que o apóstolo [Paulo] ensinava, mas ele não iria correr o risco de causar uma divisão entre os santos em Jerusalém. Se ele ficasse indiferente à condição dos santos, ele teria apresentado toda a verdade celestial na qual ele estava bem à frente dos outros. Mas duas coisas devem ser consideradas na comunicação da verdade. Não somente deve haver a certeza de que a verdade é de Deus, mas ela deve também ser adequada àqueles a quem comunicamos. Talvez eles precisem dela, mas não estejam em condições de recebê-la, e quanto mais preciosa a verdade, maior o dano que, em certo sentido, é causado se for apresentada àqueles que ainda não estão em condições de se beneficiarem dela... Esta parece ser uma das razões pela qual, na epístola aos gálatas, o apóstolo nunca menciona essas benditas verdades. A sabedoria dessa omissão é evidente. Tais verdades teriam sido ininteligíveis, ou no mínimo inadequadas, para as almas na condição em que se encontravam. Apresentá-las não faria bem algum a eles.”[2] Veja também Marcos 4:33 e João 16:12.
Devemos nos lembrar de que a verdade é para aqueles que a desejam (Jo 7:17); embora possamos orientar e instruir, não é nossa tarefa tentar forçar aqueles que têm pouco ou nenhum interesse nessas coisas. J. N. Darby disse que ele nunca tentou coagir alguém a andar na senda que ele trilhava (estando congregado ao Nome do Senhor) que não tivesse a fé ou convicção sobre isso.
W. T. P. Wolston advertiu: “Não empurre com um forcado[3] seus convertidos para dentro da assembleia”. Reunir os Cristãos ao Nome do Senhor Jesus é uma obra que Deus nunca entregou para o Seu povo fazer. Em Lucas 10:33-35 vemos que o samaritano, que é uma figura do Senhor Jesus, levou o homem ferido à “estalagem” (uma figura da assembleia). Também lemos em Lucas 22:10-11 de um homem “levando um cântaro de água”, o qual é uma figura do Espírito Santo que guia os discípulos ao lugar escolhido pelo Senhor. Isto demonstra que a obra de reunir pertence ao Senhor Jesus e ao Espírito de Deus. Ele pode nos associar Consigo neste trabalho, mas é tudo Sua obra.
O perigo nesta área de serviço Cristão é que existe uma tendência de servos bem intencionados acabarem se comprometendo, ao se esforçarem em levar a verdade às pessoas. Devemos amar a todos os filhos de Deus (Ef 1:15). Mas embora nosso amor e preocupação devam ser dirigidos a todos os santos de Deus, nossos pés devem permanecer no caminho da obediência à Palavra de Deus que nos exorta a permanecermos separados da desordem existente na “grande casa” (2 Tm 2:20-21). O fato de vermos pessoas que necessitam da verdade nas várias denominações religiosas não significa que devemos deixar de lado nossa responsabilidade de andarmos em obediência. Não podemos abandonar os princípios de separação a fim de alcançar alguém. Devemos nos lembrar de que a obra toda de reunião é do Espírito. Precisamos descansar no fato de que Deus é soberano e pode alcançar pessoas onde quer que elas estejam. “A Palavra de Deus não está presa” (2 Tm 2:9). Mas o fato de Deus usar Sua Palavra onde Lhe aprouver (Is 55:11) não significa que podemos ir onde quisermos a fim de levar a Palavra às pessoas.




[1] N. do A.: W. Scott.

[2] N. do A.: W. Kelly, “Lectures on the Epistle to the Galatians”, pág. 39.

[3] N. do T.: O forcado ou forquilha é um instrumento utilizado na agricultura e na jardinagem, constituído por um cabo longo de madeira, com de dois a quatro dentes compridos na ponta, geralmente de metal, assemelhando-se a um grande garfo.

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