segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

Os Caminhos de Deus com Israel


Os Caminhos de Deus com Israel

No caso de Israel, o Senhor claramente estabeleceu um lugar na terra de Canaã para onde todos os filhos de Israel deveriam levar seus sacrifícios, ofertas e adoração. Ele colocou o “Seu Nome” e a “Sua habitação” nesse lugar e declarou “ali vireis” (Dt 12:1-16, 16:16). O lugar, como sabemos, era Jerusalém (1 Rs 8:1, 29, 9:3, 11:32, 14:21, 2 Rs 21:4, 7; Sl 50:5, 122:3-4, 132:13-14)[1]. Era este o desejo do Senhor para todos os filhos de Israel que Ele havia redimido do Egito. Ele queria que, em determinadas épocas, todas as tribos de Israel se reunissem ali em feliz comunhão para expressarem sua unidade como nação e O adorarem.
À medida que se desdobra a história do povo na terra, descobrimos que os filhos de Israel abandonaram o Senhor e passaram a adorar os deuses das nações pagãs. Isso aconteceu tanto com o rei como com o povo (1 Rs 11:9-11, 33). E assim a nação se corrompeu e fracassou em manter um testemunho genuíno do único Deus verdadeiro perante mundo. Como consequência, encontramos o Senhor removendo grande parte de Seu povo do centro divinamente designado por Ele em Jerusalém. Ele fez com que dez das doze tribos de Israel fossem levadas para longe dos privilégios de Seu centro de reunião (1 Rs 11:29-36). Quando o rei Roboão tentou recuperar as dez tribos, o Senhor interveio por intermédio de um profeta e disse a ele que desistisse de seu intento, pois “vinha do Senhor” que as dez tribos devessem ser levadas embora (1 Rs 12:15, 24). Era uma ação governamental de Deus em seus tratos com Israel.
Mas – podemos questionar – como é que o Senhor diz em uma passagem que deseja que o Seu povo esteja juntamente congregado no centro que Ele divinamente designou em Jerusalém, enquanto em outras passagens O vemos levar muitos deles para longe desse centro? Como entender tal paradoxo[2]? A mente infiel diria que é por existirem contradições na própria Bíblia. Todavia, cremos que a resposta a esta questão esteja em entender a diferença entre os propósitos e desejos de Deus e os caminhos de Deus. Todos os propósitos de Deus se realizarão: nenhum obstáculo é grande demais para impedi-Lo de cumprir Seus propósitos (Is 46:11; Jó 42:2; Jr 51:29). Os Seus desejos caminham na mesma direção de Seus propósitos: mas, embora todos os propósitos de Deus definitivamente acontecerão, nem todos os Seus desejos necessariamente irão. Por exemplo, as Escrituras dizem, “Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2:3-4). Este é o Seu desejo, mas sabemos que não serão salvos todos os homens, “porque a fé não é de todos” (2 Ts 3:2)[3]. Assim ocorre porque os caminhos de Deus com os homens é tal que, por causa da insubordinação e pecado deles, Ele pode vir a excluir privilégios que Sua bondade desejava para eles (Is 6:9-10; Jo 12:40; Lc 8:18; 2 Ts 2:11-12; Sl 69:23). Isto mostra que os caminhos de Deus mudam quando aquilo que Ele determinou e colocou sob a responsabilidade dos homens acaba em fracasso.
Como Israel havia se entregado à adoração dos deuses pagãos, o Senhor já não podia Se associar a eles em poder e glória, como fizera durante os reinados de Davi e Salomão. Se o fizesse, as nações em redor de Israel teriam recebido um falso testemunho de Jeová. Os caminhos de Deus eram tais que Ele continuaria seu testemunho em Israel em um remanescente. Portanto, Ele permitiu que ao menos “uma tribo” permanecesse no divino centro para que pudesse existir “uma luz” diante d’Ele em Jerusalém (1 Rs 11:13, 29-36).
O povo sob um líder rebelde, Jeroboão, teve o seu papel na triste divisão que ocorreu entre as tribos de Israel. Jeroboão levou após si dez tribos para longe do centro divino. Havia um estado de declínio entre as pessoas que estavam dispostas a seguir aquele homem sectário. Já que subir a Jerusalém, o centro de Deus para sacrifício e adoração, tinha o efeito de unir as tribos de Israel (1 Rs 12:27), Jeroboão estabeleceu outros locais de culto de sua própria criação, para que o povo fosse reunido após ele em divisão (1 Rs 12:25-33). Assim a divisão entre as tribos de Israel foi solidificada e permaneceu ao longo de sua história. Aquele foi um “grande pecado” (2 Rs 17:21), e não será resolvido até após a vinda do Senhor – a Aparição de Cristo (Ez 37:15-28; Is 11:13).
Daquele tempo em diante aprouve a Deus ter apenas um testemunho remanescente da verdade do único lugar de adoração em Israel. A partir de então, o “Ami”, que significava “Meu povo” e implicava no relacionamento de Jeová com Seu povo Israel, foi rompido para as dez tribos em razão de sua separação liderada por Jeroboão.[4] Como consequência, sobre elas foi lavrado o termo “Lo-ami”, que significa “não Meu povo” (Os 1:9). Assim Deus mostrou-Se exteriormente dissociado das dez tribos que abandonaram o divino centro que Ele havia estabelecido em Jerusalém. Ao longo da história das dez tribos vemos que Deus não iria Se identificar publicamente com a posição que elas adotaram. Em mais de uma ocasião somos lembrados do solene fato de que “o Senhor não é com Israel [as dez tribos] (2 Cr 25:7). O Senhor não iria Se identificar com elas, pois se o fizesse, estaria tolerando aquela posição de separação de Seu divino centro (2 Cr 13:12; 2 Rs 17:20-21).
Embora o Senhor não Se identificasse exteriormente com a posição dividida que aquelas tribos assumiram, Ele continuou trabalhando entre elas com profetas por meio de manifestações de poder e graça. Profetas como Elias procuravam chamar o povo de volta ao Senhor em Jerusalém. Sabemos que alguns efetivamente retornaram (2 Cr 11:13-17, 30:11). Isto demonstra que o Senhor jamais colocaria empecilhos para alguém que tivesse um exercício de estar em Seu divino centro.
A partir da época da grande divisão das tribos de Israel não se podia dizer que o Senhor estivesse reunindo todos os filhos de Israel ao Seu divino centro em Jerusalém. Algo havia ocorrido que levou o Senhor a agir de outra maneira para com o Seu povo. Ele estava claramente removendo a grande massa das tribos para longe da feliz unidade do único centro de adoração. Os Seus desejos continuavam sendo de que eles estivessem todos lá, mas os Seus caminhos O levava a seguir outra linha de ação para com a maioria. E não foi por aquela “uma tribo” que ficou em Jerusalém ser melhor que as outras, que o Senhor permitiu que fossem levadas. Sabemos que o péssimo estado do rei Roboão foi, na realidade, o que causou à divisão das tribos (1 Rs 12:1-19). Tampouco devemos pensar que cada indivíduo que estivesse nas dez tribos fosse mau e adorasse os deuses dos pagãos. Mais tarde nos é revelado que o Senhor havia reservado sete mil dentre eles que não haviam dobrado seus joelhos a Baal (1 Rs 19:18). A verdade é que alguns dessa “uma tribo” que Deus permitiu que permanecesse em Jerusalém eram culpados da mesma prática – a adoração a Baal! Todavia, manter aquela “luz” em Jerusalém não exigia que todas as tribos de Israel estivessem ali. Um remanescente formado de uma tribo era suficiente. Seria humilhante, pois aqueles que estavam no divino centro já não poderiam se gabar da glória original da nação com sua unidade de doze tribos que existira nos dias de Davi e Salomão.




[1] N. do A.: As pessoas realmente escolheram Siló a princípio e o Senhor suportou isso por um tempo. Ele deu Siló provisoriamente para revelar o estado deles. Sendo manifestado, Ele rejeitou Siló e escolheu Jerusalém (Js 18:1; Jr 7:12; Sl 78:67-69).

[2] N. do T.: Pensamento ou argumento que contraria os princípios do pensamento humano. É o oposto do que alguém pensa ser a verdade.

[3] N. do A.: Isso se aplica à verdade de reunir também. Deus deseja que todos os Cristãos sejam reunidos para o Nome do Senhor Jesus, mas nem todos são.

[4] N. do A.: J. N. Darby, “Collected Writtings”. vol. 4, pág. 258.

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