A Assembleia Revestida de Autoridade, Mas Não de Infalibilidade
Se observarmos o
contexto da passagem em Mateus 18:15-20 veremos que o Senhor estava anunciando
que Ele iria conferir Sua autoridade à “igreja [assembleia – JND]”
para agir em lugar d’Ele durante a Sua ausência. Isso era um novo
direcionamento nos procedimentos de Deus. Israel iria ser deixado de lado por
causa de seu fracasso, e Cristo estava prestes a “edificar” Sua assembleia (Mt
16:18). A assembleia seria o novo centro administrativo divino na Terra que
Deus passaria a reconhecer. Se surgissem dificuldades entre os santos, eles já
não precisariam trazê-las diante dos juízes em Jerusalém, como no tempo em que
Ele deu autoridade para Israel agir em Seu Nome no judaísmo (Dt 17:8-13). Agora
eles deveriam trazer as questões para a assembleia. “Dizei-o à igreja [assembleia
– JND]”, disse Ele. Então Ele seguiu dizendo que a assembleia teria
autoridade para agir administrativamente em Seu Nome sempre que necessário: “Em
verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no céu, e tudo o
que desligardes na Terra será desligado no céu”. Um exemplo da assembleia
ligando seria o caso de 1 Coríntios 5:11-13. Um exemplo da assembleia
desligando seria 2 Coríntios 2:6-11. Assim a assembleia foi revestida da
autoridade do Senhor para agir em Seu Nome durante o tempo de Sua ausência e
suas ações devem ser reconhecidas como autoridade final. Essa autoridade não
foi dada aos apóstolos, mas à assembleia (apesar de os apóstolos terem recebido uma autoridade
especial). Mateus 18:18-20 é a primeira referência feita à
assembleia local na Bíblia. Antes disso o Senhor havia dito que iria
edificar Sua assembleia em seu aspecto universal (Mt 16:18).
Todavia, o fato de a
assembleia ter recebido autoridade não significa que ela seja infalível em suas
ações. J. N. Darby escreveu um artigo sobre este assunto que é de grande ajuda,
intitulado “Confundindo Autoridade com Infalibilidade”.[1] Ele
mostra que é possível que as coisas que a assembleia venha a ligar na Terra
possam estar erradas, porém isso não muda o fato de que a assembleia está
revestida da autoridade do Senhor. Muitos têm ficado confusos com esta questão.
Não conseguem entender como uma ação errada poderia ser “ligada”. Eles concluem
que se está errada, então não poderia ser ligada no céu. Todavia, é um engano
pensar que o termo “será ligado no céu” significa que ela seja
necessariamente aprovada pelo céu. Isto quer dizer simplesmente que o céu
reconhece tal ação. O céu pode não estar contente com uma decisão tomada pela
assembleia, porém a reconhece. A ação continua ligada. Isto ocorre porque a
assembleia foi revestida com a autoridade do Senhor para agir como
representante d’Ele. Trata-se de uma extensão de Sua autoridade.
Podemos entender melhor
este princípio em uma família. No artigo de Darby, “Confundindo Autoridade com
Infalibilidade”, ele menciona o fato de, na família, os pais terem recebido de
Deus autoridade, e mesmo assim não serem infalíveis. Todos na família devem se
sujeitar àquela autoridade. Um pai pode disciplinar um filho por engano, mas
ainda assim sua autoridade é válida e o dever de todos na família é se
submeter. É assim que é mantida a ordem em um lar. Quando vem à tona que o
pai cometeu um erro, o normal seria ele reconhecer seu erro pedindo humildemente
desculpas e fazendo as correções necessárias. O mesmo ocorre com um policial:
ele possui autoridade para prender alguém, mas já que o policial não é
infalível, é possível que ele venha a cometer erros. Porém sua ação continua a
ter validade e a pessoa presa não tem alternativa senão aceitá-la, até que se
prove que a ação foi errada. Se as autoridades civis não fossem assim, não
haveria qualquer ordem no governo e estaríamos vivendo em um estado de
anarquia. O céu pode não se agradar de uma decisão tomada pela assembleia, mas
a reconhece. É assim que a ordem é mantida na casa de Deus.
É solene pensarmos que
podemos usar essa autoridade de maneira errada e acabar associando o céu a algo
que não está correto, nos colocando assim sob o juízo governamental de Deus.
Esta é exatamente a razão de o Senhor ter Se dissociado exteriormente da grande
massa da profissão Cristã, e de Ele estar atualmente lidando com um
remanescente. Se esse remanescente se achar em condições deploráveis e falhar
em sua responsabilidade diante do Senhor, Ele pesará Sua mão em juízo
governamental sobre aqueles identificados com esse testemunho, e o reduzirá em
número e tamanho, peneirando e espalhando alguns com o fim de que possam estar
humilhados. Isto já aconteceu, como pode ser visto nas várias divisões e
dispersões que ocorreram na história. Se aqueles conectados com o testemunho
remanescente continuarem a agir de um modo que não agrade ao Senhor, Ele
encerrará de vez a história da Igreja na Terra e a levará para a glória. É o
que vemos representado no declínio do testemunho da Igreja vivido pelas sete
igrejas de Apocalipse 2-3. Quando se chega ao desagradável estado de Laodiceia,
a única saída é para cima. É aberta uma “porta” no céu e João é chamado
a subir ao céu, indicando que os crentes serão assim levados na vinda do
Senhor, o Arrebatamento (Ap 4:1).[2]
[1] N.
do A.: J. N. Darby, “Collected
Writings”, vol. 14, págs. 304-307.
[2] N. do A.: Apesar de Apocalipse 4:1 não ser o próprio Arrebatamento,
é uma pequena indicação do que acontecerá após a Igreja ter encerrado sua
história neste mundo. O Senhor virá e nos chamará para o céu.
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