sábado, 28 de dezembro de 2019

A Formação do “Um Só Corpo”


A Formação do “Um Só Corpo”

O “corpo de Cristo” se refere aos muitos Cristãos espalhados por todo o mundo (independentemente da comunhão denominacional à qual possam estar associados), os quais estão ligados em um só corpo e unidos a Ele, a Cabeça do corpo no céu. Trata-se de uma união mística (pois não pode ser vista) formada pela habitação do Espírito de Deus.
Como e quando “o corpo de Cristo” passou a existir? Examinando as Escrituras encontramos que este não existia nos tempos do Velho Testamento. Na verdade, ele nem mesmo aparece na revelação do Velho Testamento. O Senhor Jesus Cristo precisava primeiro morrer, ressuscitar e ascender ao céu como um Homem glorificado antes que a Igreja pudesse ser formada.
Duas coisas eram absolutamente necessárias antes que o “corpo de Cristo” pudesse ser trazido à existência: Cristo precisava ser glorificado e o Espírito Santo precisava ser enviado do céu. Uma das grandes obras do Espírito Santo ao vir ao mundo foi formar a Igreja, o corpo de Cristo na Terra. Essa obra é chamada de batismo do Espírito. Foi uma ação do Espírito que ocorreu uma só vez (1 Co 12:12-13). Na Escritura, ser batizado com o Espírito não é uma experiência individual. É uma ação corporativa que ocorreu no dia do Pentecostes em Atos 2 e se estendeu até incluir os gentios em Atos 10[1] Depois disso, o batismo do Espírito estava concluído para sempre.
Isto pode ser visto nas sete referências ao batismo do Espírito nas Escrituras. Cinco delas apontavam para uma ação do Espírito ainda futura em relação à época em que foram anunciadas, porém sem especificar quando (Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; Jo 1:33; At 1:5). Então, a quinta e a sexta referências remontam no tempo a alguma ação do Espírito que só poderia ser o que aconteceu no Pentecostes, quando o Espírito de Deus veio para formar e habitar na Igreja. (A sexta, em Atos 11:16, conecta o batismo do Espírito com o Pentecostes. A sétima, em 1 Coríntios 12:13, também se refere ao passado, ao dizer: “fomos batizados todos nós em um só corpo” (TB).
Ao contrário do que atualmente pensam muitos Cristãos, os crentes não são acrescentados ao corpo pelo batismo do Espírito, já que a obra do Espírito em batizar está completa e aconteceu de uma vez para sempre no início da história da Igreja. Repare com atenção que 1 Coríntios 12:13 não diz, como alguns imaginam, “fomos batizados todos nós no (em+o) um só corpo” (TB) (acrescentando o artigo “o”, que não faz parte do texto). Se assim fosse, então poderia indicar que as pessoas hoje são acrescentadas individualmente ao corpo pelo batismo do Espírito. O acréscimo do artigo “o” muda consideravelmente o sentido e pressupõe que o corpo já existisse antes mesmo de ocorrer o batismo. Todavia, o versículo diz ... batizados todos nós em um só corpo” (TB), significando que foi o batismo que formou o corpo. O Espírito de Deus tomou todos os crentes individuais no cenáculo e, pela presença de Sua habitação, os uniu a Cristo, a Cabeça que subiu ao céu (At 2:1-4).
J. N. Darby observa que, em 1 Coríntios 12:13, a ação do Espírito ao batizar está no tempo verbal grego aoristo[2], que significa que foi uma ação feita de uma vez por todas. Portanto, isto mostra que o Espírito não continua executando essa ação, pois a obra de formação do corpo já foi feita. Podemos dizer com toda a certeza que o Espírito não está batizando hoje; se estivesse, isto significaria que Ele estaria formando mais e mais corpos (pois é esta a função do batismo do Espírito). Evidentemente não é o que acontece, pois a Escritura nos diz enfaticamente que “há um só corpo” (Ef 4:4). Alguns podem indagar que, se assim fosse, então por que Paulo teria falado de si e dos coríntios como tendo sido batizados pelo Espírito? Eles nem mesmo estavam salvos quando o Espírito desceu e formou a Igreja no Pentecostes! A resposta é que Paulo estava falando de forma representativa. Ele disse: “nós” – o conjunto de Cristãos como um todo – “fomos todos nós batizados em um só corpo” (AIBB), referindo-se à ação passada realizada pelo Espírito no Pentecostes. Se ele estivesse falando especificamente de si e dos coríntios ao dizer “nós”, então isto significaria que apenas eles (Paulo e os coríntios) teriam sido batizados em um só corpo, o que certamente não poderia ser verdade, pois o que dizer então dos santos em Éfeso e em Filipos? Não estão eles no corpo também? O único significado lógico para a declaração de Paulo é que ele estava falando representativamente de todos os membros do corpo.
Isto é semelhante à fundação de uma empresa. Ela é fundada uma vez – e isso pode ter acontecido há cem anos. Agora que a empresa já foi formada (incorporada – tornada um corpo), cada vez que contrata um novo funcionário, ela não precisa ser fundada novamente. Tampouco existe algo como a cada novo funcionário a empresa sendo fundada. O novo funcionário é simplesmente acrescentado à uma empresa já fundada. Do mesmo modo, quando hoje alguém é salvo ele é, pela habitação do Espírito em si, acrescentado a um corpo já batizado. Não há um novo batismo para a companhia Cristã como um todo, ou para o novo crente em particular.
Para levarmos a ilustração um pouco mais adiante, suponha que ao participarmos de uma das reuniões de diretoria dessa empresa escutamos um dos diretores dizer: “Nossa fundação foi há 100 anos”. Não teríamos dificuldade alguma em entender o que ele quis dizer. Alguém que não entendesse bem a linguagem poderia até exclamar: “O que ele quer dizer com isso? Ninguém nesta reunião tem mais de 60 anos de idade, como poderia falar de ‘nós... há cem anos?’” Bem, é porque o diretor estava falando representativamente da empresa. Do mesmo modo, em 1 Coríntios 12:13 Paulo falava daquilo que é verdadeiro acerca do corpo de Cristo, do qual ele e os coríntios faziam parte. Assim também na companhia Cristã, Paulo, os coríntios e todos nós fomos incluídos no batismo que aconteceu no Pentecostes – quando fomos salvos e trazidos ao um só corpo por crer no evangelho.


[1] Dois erros comuns relacionados ao batismo do Espírito são: 1º) o ponto de vista Pentecostal ou Carismático — de que seja uma experiência pela qual o Cristão deveria passar em algum momento depois de sua salvação, quando ele seria cheio do Espírito e, por conseguinte, estaria capacitado a falar em línguas ou operar milagres. 2º) O ponto de vista tradicional e não carismático — de que os crentes seriam batizados com o Espírito no momento em que fossem salvos, e que não seria necessária qualquer experiência adicional. A segunda ideia provavelmente foi inventada por Cristãos com boas intenções para combater a primeira. Todavia, ambas estão erradas.

[2] N. do T.: A palavra grega “aoristo” significa sem limite. Numa tradução mais livre, significa indefinido ou indeterminado. Indica uma ação que ocorreu pontualmente em algum momento do passado, sem relacioná-la com o presente. A ação ocorre uma única vez, de uma vez por todas.

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