A Voz dos Dissidentes
Todavia podem existir
na assembleia aqueles que não concordam com o curso de ação que a assembleia
acredita que deva tomar. Se esses forem homens sérios, experientes, com peso
moral, a assembleia deve esperar, porém se forem amigos e partidários do
indivíduo ou indivíduos em questão, não devem ser considerados. Na verdade,
essas pessoas devem ser repreendidas. Elas não deveriam tentar impedir que a
assembleia siga adiante em cumprir sua responsabilidade diante do Senhor.
William Kelly disse: “Em casos particulares podem existir parentes ou amigos,
talvez até mesmo partidários ou cúmplices numa maior ou menor medida, cujas
opiniões não devem ser manifestadas e, se manifestadas, devem ser repreendidas
e desconsideradas.”[1]
Um exemplo disso
ocorreu no julgamento feito pela assembleia de Nepean, Ontário, Canadá, em
1991. Os líderes e várias pessoas na assembleia em Nepean viram que a assembleia
deveria adotar um curso de ação, enquanto um partido formado por apoiadores e
simpatizantes do irmão em questão discordou. Estes fizeram tudo o que podiam
para impedir a ação: nas reuniões de cuidado, enviando uma carta à assembleia
em Perth em busca de ajuda (onde eles sabiam que encontrariam simpatizantes), e
até na reunião da assembleia quando a decisão foi tomada. A assembleia em
Nepean não considerou a voz desses dissidentes e a decisão foi levada a efeito.
Muitos reagem de
maneira errada diante de uma decisão decorrente do julgamento de uma assembleia
em particular, ao invés de buscarem conhecer os fatos relacionados ao caso, e
procurarem o que é preciso fazer para a glória de Deus. O inimigo procura
levantar a poeira para ocultar as verdadeiras questões envolvidas, fazendo com
que as pessoas fiquem confusas. Numa situação assim pode existir também algum
histórico de problemas pessoais entre irmãos, o que acaba vindo à tona e
interfere em nosso julgamento. Todavia, devemos deixar que as coisas sejam
decididas pelos princípios divinos, e não pelas falhas e fraquezas dos
envolvidos na questão. Às vezes as pessoas podem apontar algo que acreditam ter
sido tratado de maneira inadequada e então fundamentam seu julgamento nisso,
esquecendo-se de que na administração da assembleia existe o elemento humano
que nem sempre irá tratar tudo com perfeição. Mas a questão que permanece é:
Estarão aqueles que atuam na liderança em uma assembleia agindo para a glória
de Deus em relação àquela situação? Nossa espiritualidade é colocada à prova
por essas questões paralelas.
No caso de uma divisão
em uma assembleia local sobre uma questão específica (geralmente uma questão
disciplinar), quantos irmãos há de cada lado têm pouco a ver com isso. Pode
haver mais pessoas do lado do culpado do que daqueles que fazem o julgamento,
mas a ação ainda é tomada e a pessoa é tratada de acordo. Alguns exclamaram: “Como
poderia ser uma decisão da assembleia, quando a maioria não concorda com ela?”
A resposta é que os irmãos mais velhos que estão na liderança, que se empenham
em cuidar da assembleia e guiá-la, e que atuam sobre os princípios da Palavra
de Deus, levam sobre si a maior parcela da consciência da assembleia. Mesmo que
sejam em número menor, eles levam o peso moral nas decisões da assembleia. Eles
são diretamente responsáveis perante o Senhor para que seja adotado, pela
assembleia, um curso de ação fundamentado na Escritura (Hb 13:17). Os outros
devem concordar com o julgamento desses, mesmo que não sejam capazes de
enxergar do mesmo modo que os anciãos estejam enxergando. Isto preserva a
unidade da assembleia.
Vemos este princípio
apresentado em figura no Velho Testamento, das quais podemos colher importantes
lições. Por ocasião da revolta de Absalão, ele tinha consigo todas as tribos de
Israel (2 Sm 16:15) – ou seja, a maioria, porém Deus não estava com ele.
O Senhor permaneceu com o rei Davi (a liderança em Israel) e Judá, apesar de
serem inferiores em número. Aqueles que se identificavam com Davi estavam do
lado do Senhor. No final Deus fez com que Absalão fosse derrotado. Também nos
dias da divisão entre as duas tribos e as outras dez tribos, vemos ocorrer a
mesma coisa. Jeroboão tinha as dez tribos do seu lado – a maioria de Israel,
mas ainda assim estava do lado errado, e o Senhor não iria identificar-Se com
ele (1 Rs 11:31). Roboão, que era o líder e rei de direito sobre Israel,
contava com apenas uma tribo, e mesmo assim Deus permaneceu com ele (1 Rs
11:36). Aqueles que permaneceram com Roboão foram preservados no centro divino.
Estas são lições importantes que fazemos bem em aprender.
A grande pergunta é: “Como
os líderes na assembleia se posicionam em relação ao assunto?” Não nos
referimos aos mais velhos, mas àqueles que assumem a liderança administrativa
na assembleia. Pois existem irmãos mais velhos que não se envolvem nas questões
habituais da assembleia com regularidade, ou que no passado não tiveram um bom
comportamento e, consequentemente, não contam com a mesma confiança que os
santos depositam naqueles que se empenharam fielmente no cuidado da assembleia.
É para o Senhor Jesus, a Cabeça da Igreja, que a assembleia deve olhar em todas
as questões, mas em uma situação normal Ele usa esses homens fiéis que Ele
levantou por meio do Espírito de Deus, que conhecem os princípios da Palavra,
para apresentar à assembleia o pensamento de Deus relacionado àquela questão. Ao
emitir uma difícil decisão de assembleia, ela deve se submeter ao julgamento
desses homens (1 Co 16:15-16). Quando parece existir uma divisão entre os
irmãos mais velhos na liderança de uma assembleia, é preciso discernimento para
saber quais são os que verdadeiramente têm o peso moral. Como já mencionado,
alguns irmãos mais velhos podem não ter necessariamente a confiança dos santos
na mesma medida que os outros, ou podem agir com parcialidade. Em 1 Tessalonicenses
5:12-13 diz: “E rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre
vós e que presidem [tomam a
iniciativa – JND] sobre vós no Senhor, e vos admoestam; e que os tenhais
em grande estima e amor, por causa da sua obra. Tende paz entre vós”.
Esta é a fórmula divina para uma assembleia pacífica e feliz.
[1] N.
do A.: W. Kelly, “Bible
Treasury”, vol. 11, pág. 47.
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